Disciplina: Língua Portuguesa 0 Curtidas
Até ali que sabia das misérias do mundo? Nada. Aquela - ENEM 2024
Atualizado em 31/01/2025
Até ali que sabia das misérias do mundo? Nada. Aquela noite do Castelo, tão simples, tão monótona, fora uma revelação! Era bem certo que a lágrima existia, que irrompiam soluços de peitos oprimidos, que para alguém os dias não tinham cor nem a noite tinha estrelas! Ela, criada entre beijos, no aroma dos seus jardins, com as vontades satisfeitas, o leito fofo, a mesa delicada, sentira sempre no coração um desejo sem nome, um desejo ou uma saudade absurda, a saudade do céu, como dizia o dr. Gervásio, e que não era mais que a doida aspiração da artista incipiente, que germinava no seu peito fraco.
E aquela mesma mágoa parecia-lhe agora doce e embaladora, comparando-se à outra, a Sancha, da sua idade, negra, feia, suja, levada a pontapés, dormindo sem lençóis em uma esteira, comendo em pé, apressada, os restos parcos e frios de duas velhas, vestida de algodões rotos, curvada para um trabalho sem descanso nem paga!
Por quê? Que direito teriam uns a todas as primícias e regalos da vida, se havia outros que nem por uma nesga viam a felicidade?
ALMEIDA, J. L. A falência. Disponível em: www.dominiopublico.
gov.br. Acesso em: 28 dez. 2023.
Nesse fragmento do romance de Júlia Lopes de Almeida, escrito no cenário brasileiro pós-abolição, a narradora exprime um olhar crítico sobre a
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desvalorização da arte produzida por mulheres.
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mudança das condições de moradia do povo negro.
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ruptura do projeto político de emancipação feminina.
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exploração da força de trabalho da população negra.
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disputa de poder entre brancos e negros no século XIX.
Solução
Alternativa Correta: D) exploração da força de trabalho da população negra.
A alternativa correta é a D, pois o fragmento do texto descreve, de forma crítica, as condições degradantes e a exploração da força de trabalho da população negra, representada pela personagem Sancha. A narradora faz uma comparação entre a vida da personagem principal, que tem uma vida de conforto e luxo, e a realidade de Sancha, uma mulher negra que sofre condições desumanas de trabalho e de vida, evidenciando a exploração da mão de obra negra no Brasil pós-abolição.
A narrativa mostra uma disparidade social profunda, onde uma personagem desfruta de um privilégio gerado pela classe dominante, enquanto a outra, pertencente à população negra, é submetida a uma vida de privação e subordinação. A personagem Sancha é descrita de forma desumanizante: “negra, feia, suja, levada a pontapés, dormindo sem lençóis, comendo restos e vestindo roupas rotas”, elementos que enfatizam a exploração extrema da força de trabalho e a desigualdade racial e social.
Além disso, o texto denuncia a injustiça social ao perguntar: “Por quê? Que direito teriam uns a todas as primícias e regalos da vida, se havia outros que nem por uma nesga viam a felicidade?”, colocando em questão as condições de vida desiguais e a exploração da população negra, cujas condições de vida são diretamente associadas ao trabalho árduo, sem descanso ou recompensa justa. Assim, a narrativa denuncia a exploração do trabalho da população negra na sociedade brasileira da época.
Área do Conhecimento: Linguagens Códigos e suas tecnologias
Ano da Prova: 2024
Nível de Dificuldade da Questão: Médio
Assuntos: Interpretação Textual
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