Disciplina: Língua Portuguesa 0 Curtidas
Pérolas absolutas - Enem 2016
Atualizado em 13/05/2024
Pérolas absolutas
Há, no seio de uma ostra, um movimento – ainda que imperceptível. Qualquer coisa imiscuiu-se pela fissura, uma partícula qualquer, diminuta e invisível. Venceu as paredes lacradas, que se fecham como a boca que tem medo de deixar escapar um segredo. Venceu. E agora penetra o núcleo da ostra, contaminando-lhe a própria substância. A ostra reage, imediatamente. E começa a secretar o nácar. É um mecanismo de defesa, uma tentativa de purificação contra a partícula invasora. Com uma paciência de fundo de mar, a ostra profanada continua seu trabalho incansável, secretando por anos a fio o nácar que aos poucos se vai solidificando. É dessa solidificação que nascem as pérolas.
As pérolas são, assim, o resultado de uma contaminação. A arte por vezes também. A arte é quase sempre a transformação da dor. […] Escrever é preciso. É preciso continuar secretando o nácar, formar a pérola que talvez seja imperfeita, que talvez jamais seja encontrada e viva para sempre encerrada no fundo do mar. Talvez estas, as pérolas esquecidas, jamais achadas, as pérolas intocadas e por isso absolutas em si mesmas, guardem em si uma parcela faiscante da eternidade.
SEIXAS, H. Uma ilha chamada livro. Rio de Janeiro: Record, 2009 (fragmento).
Considerando os aspectos estéticos e semânticos presentes no texto, a imagem da pérola configura uma percepção que
-
reforça o valor do sofrimento e do esquecimento para o processo criativo.
-
ilustra o conflito entre a procura do novo e a rejeição ao elemento exótico.
-
concebe a criação literária como trabalho progressivo e de autoconhecimento.
-
expressa a ideia de atividade poética como experiência anônima e involuntária.
-
destaca o efeito introspectivo gerado pelo contato com o inusitado e com o desconhecido.
Solução
Alternativa Correta: C) concebe a criação literária como trabalho progressivo e de autoconhecimento.
A metáfora da “pérola”, utilizada no texto para definir a arte de escrever, associa o tempo, que a ostra leva para envolver um grão de areia até transformá-lo em pérola (“a ostra... continua seu trabalho incansável”), ao processo criativo, “progressivo e de autoconhecimento”, o que indica a alternativa C*. No entanto a alternativa A encontra também respaldo no texto, visto que o sofrimento e o esquecimento ocorrem tanto na criação literária quanto na feitura da pérola, o que se percebe no seguinte trecho: “A arte por vezes também. A arte é quase sempre transformação da dor. É preciso continuar secretando o nácar, formar a pérola que talvez seja imperfeita, que jamais seja encontrada e viva para sempre encerrada no fundo do mar. Talvez estas, as pérolas esquecidas, jamais achadas, as pérolas intocadas e por isso absolutas em si mesmas, guardem em si uma parcela faiscante da eternidade.”.
Créditos da Resolução: Curso Objetivo
Área do Conhecimento: Linguagens Códigos e suas tecnologias
Ano da Prova: 2016
Nível de Dificuldade da Questão: Difícil
Assuntos: Interpretação textual, Metáfora
Vídeo Sugerido: YouTube