Disciplina: Língua Portuguesa 0 Curtidas
Data venia Conheci Bentinho e Capitu nos meus curiosos e - ENEM 2024
Atualizado em 31/01/2025
Data venia
Conheci Bentinho e Capitu nos meus curiosos e antigos quinze anos. E os olhos de água da jovem de Matacavalos atraíram-me, seduziram-me ao primeiro contato. Aliados ao seu jeito de ser, flor e mistério. Mas tomou-me também a indignação diante do narrador e seu texto, feito de acusação e vilipêndio. Sem qualquer direito de defesa. Sem acesso ao discurso, usurpado, sutilmente, pela palavra autoritária do marido, algoz, em pele de cordeiro vitimado. Crudelíssimo e desumano: não bastasse o que faz com a mulher, chega a desejar a morte do próprio filho e a festejá-la com um jantar, sem qualquer remorso. No fundo, uma pobre consciência dilacerada, um homem dividido, que busca encontrar-se na memória, e acaba faltando-se a si mesmo. Retomei inúmeras vezes a triste história daquele amor em desencanto. Familiarizei-me, ao longo do tempo, com a crítica do texto; poucos, muito poucos, escapam das bem traçadas linhas do libelo condenatório; no mínimo concedem à ré o beneplácito da dúvida: convertem-na num enigma indecifrável, seu atributo consagrador.
Eis que, diante de mais um retorno ao romance, veio a iluminação: por que não dar voz plena àquela mulher, brasileira do século XIX, que, apesar de todas as artimanhas e do maquiavelismo do companheiro, se converte numa das mais fascinantes criaturas do gênio que foi Machado de Assis?
A empresa era temerária, mas escrever é sempre um risco. Apoiado no espaço de liberdade em que habita a Literatura, arrisquei-me.
O resultado: este livro em que, além-túmulo, como Brás Cubas, a dona dos olhos de ressaca assume, à luz do mistério da arte literária e do próprio texto do Dr. Bento Santiago, seu discurso e sua verdade.
PROENÇA FILHO, D. Capitu: memórias póstumas. Rio de Janeiro: Atrium, 1998.
Para apresentar a apropriação literária que faz da obra de Machado de Assis, o autor desse texto
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relaciona aspectos centrais da obra original e, então, reafirma o ponto de vista adotado.
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explica os pontos de vista de críticos da literatura e, por fim, os redimensiona na discussão.
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introduz elementos relevantes da história e, na sequência, apresenta motivos para refutá-los.
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justifica as razões pelas quais adotou certa abordagem e, em seguida, reconsidera tal escolha.
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contextualiza o enredo de forma subjetiva e, na conclusão, explicita o foco narrativo a ser assumido.
Solução
Alternativa Correta: E) contextualiza o enredo de forma subjetiva e, na conclusão, explicita o foco narrativo a ser assumido.
A alternativa E é a correta porque o autor do texto, ao refletir sobre sua experiência com a obra "Dom Casmurro" de Machado de Assis, começa com uma abordagem subjetiva e pessoal sobre a trama. Ele narra sua indignação com a maneira como Bentinho, o narrador, acusa Capitu sem lhe dar voz, e destaca sua própria reação emocional ao texto. Esse olhar pessoal e a crítica ao foco narrativo do marido denunciante mostram que o autor está se posicionando de maneira subjetiva, antes de explicar a razão de adotar a perspectiva de Capitu.
Em seguida, ao justificar sua decisão de escrever a história sob a ótica de Capitu, o autor argumenta que, mesmo com todos os artifícios de Bentinho, ela se converte em uma figura fascinante e merece expressar sua verdade. Isso indica uma mudança no foco narrativo, de forma que o texto de Proença Filho se propõe a dar voz a Capitu, uma mulher que no romance original é silenciada pelo discurso autoritário de seu marido.
Por fim, ao afirmar que "arriscar-se" na literatura é um risco, o autor contextualiza sua escolha, explicando seu desejo de transformar a narrativa de "Dom Casmurro", dando a Capitu a oportunidade de falar. Isso torna claro que a mudança no foco narrativo visa não só refletir sobre a história original, mas também reconfigurar a forma como as vozes são ouvidas dentro da obra, o que corresponde à opção E.
Área do Conhecimento: Linguagens Códigos e suas tecnologias
Ano da Prova: 2024
Nível de Dificuldade da Questão: Médio
Assuntos: Literatura
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