Disciplina: Língua Portuguesa 0 Curtidas
Falar errado é uma arte, Arnesto! No dia 6 de agosto de - ENEM 2024
Atualizado em 31/01/2025
Falar errado é uma arte, Arnesto!
No dia 6 de agosto de 1910, Emma Riccini Rubinato pariu um garoto sapeca em Valinhos e deu a ele o nome de João Rubinato. Na escola, João não passou do terceiro ano. Não era a área dele, tinha de escolher outra. Fez o que apareceu. Foi ser garçom, metalúrgico, até virar radialista, comediante, ator de cinema e TV, cantor e compositor. De samba.
Como tinha sobrenome italiano, João resolveu mudar para emplacar seu samba. E como ia mudar o sobrenome, mudou o nome. Virou Adoniran Barbosa. O cara falava errado, voz rouca, pinta de malandro da roça. Virou ícone da música brasileira, o mais paulista de todos, falando errado e irritando Vinicius de Moraes, que ficou de bico fechado depois de ouvir a música que Adoniran fez para a letra Bom dia, tristeza, de autoria do Poetinha. Coisa de arrepiar.
Para toda essa gente que implicava, Adoniran tinha uma resposta neoerudita: “Gosto de samba e não foi fácil, pra mim, ser aceito como compositor, porque ninguém queria nada com as minhas letras que falavam ‘nóis vai’, ‘nóis fumo’, ‘nóis fizemo’, ‘nóis peguemo’. Acontece que é preciso saber falar errado. Falar errado é uma arte, senão vira deboche”.
Ele sabia o que fazia. Por isso dizia que falar errado era uma arte. A sua arte. Escolhida a dedo porque casava com seu tipo. O Samba do Arnesto é um monumento à fala errada, assim como Tiro ao Álvaro. O erudito podia resmungar, mas o povo se identificava.
PEREIRA, E. Disponível em: www.tribunapr.com.br.
Acesso em: 8 jul. 2024 (adaptado).
O “falar errado” a que o texto se refere constitui um preconceito em relação ao uso que Adoniran Barbosa fazia da língua em suas composições, pois esse uso
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marcava a linguagem dos comediantes no mesmo período.
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prejudicava a compreensão das canções pelo público.
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denunciava a ausência de estilo nas letras de canção.
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restringia a criação poética nas letras do compositor.
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transgredia a norma-padrão vigente à época.
Solução
Alternativa Correta: E) transgredia a norma-padrão vigente à época.
A resposta correta é a alternativa E porque o texto descreve a maneira como Adoniran Barbosa, ou João Rubinato, transgredia a norma-padrão da língua portuguesa em suas canções, utilizando uma linguagem que se distanciava das regras formais. Ele deliberadamente adotava uma fala popular, com expressões como "nóis vai", "nóis fumo", "nóis fizemo" e "nóis peguemo", que representavam um uso considerado "errado" do idioma. Essa transgressão não era vista como um defeito, mas sim como uma escolha artística, uma marca de seu estilo único e autêntico, ligado à cultura popular paulista.
Adoniran usava essas "falas erradas" de forma consciente e com uma finalidade estética, transformando o que muitos considerariam um erro em um elemento fundamental de sua música. Ao afirmar que "falar errado é uma arte", ele destacava que sua arte estava justamente na desconstrução da norma linguística, criando um estilo que se comunicava diretamente com o povo e suas vivências. Essa transgressão da norma-padrão era parte do que tornava suas canções tão emblemáticas e identificáveis para as pessoas, refletindo a linguagem popular de forma legítima.
A escolha de Adoniran Barbosa de usar a língua de maneira não convencional pode ser entendida como uma resistência cultural e uma reafirmação da identidade do povo, especialmente o paulista. Ao transgredir a norma, ele afirmava sua posição como compositor e sua ligação com o povo, utilizando a "fala errada" como uma ferramenta de empoderamento e de autenticidade na música popular brasileira. Portanto, o texto aponta para a transgressão das normas linguísticas vigentes como um aspecto fundamental do estilo de Adoniran.
Área do Conhecimento: Linguagens Códigos e suas tecnologias
Ano da Prova: 2024
Nível de Dificuldade da Questão: Fácil
Assuntos: Gramática
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