Disciplina: Língua Portuguesa 0 Curtidas
Pode ser reescrito na voz passiva o seguinte trecho do - UNIFESP 2021
Para responder a questão, leia o trecho do livro O oráculo da noite, do neurocientista Sidarta Ribeiro.
A palavra sonho, do latim somnium, significa muitas coisas diferentes, todas vivenciadas durante a vigília, e não durante o sono. Realizei “o sonho da minha vida”, “meu sonho de consumo” são frases usadas cotidianamente pelas pessoas para dizer que pretendem ou conseguiram alcançar algo. Todo mundo tem um sonho, no sentido de plano futuro. Todo mundo deseja algo que não tem. Por que será que o sonho, fenômeno normalmente noturno que tanto pode evocar o prazer quanto o medo, é justamente a palavra usada para designar tudo aquilo que se quer ter?
O repertório publicitário contemporâneo não tem dúvidas de que o sonho é a força motriz de nossos comportamentos. Desejo é o sinônimo mais preciso da palavra “sonho”. [...] Na área de desembarque de um aeroporto nos Estados Unidos, uma foto enorme de um casal belo e sorridente, velejando num mar caribenho em dia ensolarado, sob a frase enigmática: “Aonde seus sonhos o levarão?”, embaixo o logotipo da empresa de cartão de crédito. Deduz-se do anúncio que os sonhos são como veleiros, capazes de levar-nos a lugares idílicos, perfeitos, altamente… desejáveis. As equações “sonho é igual a desejo que é igual a dinheiro” têm como variável oculta a liberdade de ir, ser e principalmente ter, liberdade que até os mais miseráveis podem experimentar no mundo de regras frouxas do sonho noturno, mas que no sonho diurno é privilégio apenas dos detentores de um mágico cartão plástico.
A rotina do trabalho diário e a falta de tempo para dormir e sonhar, que acometem a maioria dos trabalhadores, são cruciais para o mal-estar da civilização contemporânea. É gritante o contraste entre a relevância motivacional do sonho e sua banalização no mundo industrial globalizado. [...] A indústria da saúde do sono, um setor que cresce aceleradamente, tem valor estimado entre 30 bilhões e 40 bilhões de dólares. Mesmo assim a insônia impera. Se o tempo é sempre escasso, se despertamos diariamente com o toque insistente do despertador, ainda sonolentos e já atrasados para cumprir compromissos que se renovam ao infinito, se tão poucos se lembram que sonham pela simples falta de oportunidade de contemplar a vida interior, quando a insônia grassa e o bocejo se impõe, chega-se a duvidar da sobrevivência do sonho.
E, no entanto, sonha-se. Sonha-se muito e a granel, sonha-se sofregamente apesar das luzes e dos ruídos da cidade, da incessante faina da vida e da tristeza das perspectivas. Dirá a formiga cética que quem sonha assim tão livre é o artista, cigarra de fábula que vive de brisa. [...] Na peça teatral A vida é sonho, o espanhol Pedro Calderón de la Barca dramatizou a liberdade de construir o próprio destino. O sonho é a imaginação sem freio nem controle, solta para temer, criar, perder e achar.
(O oráculo da noite: a história e a ciência do sonho, 2019.)
Pode ser reescrito na voz passiva o seguinte trecho do texto:
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“Pedro Calderón de la Barca dramatizou a liberdade de construir o próprio destino” (4.° parágrafo).
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“É gritante o contraste entre a relevância motivacional do sonho e sua banalização no mundo industrial globalizado” (3.° parágrafo).
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“O sonho é a imaginação sem freio nem controle, solta para temer, criar, perder e achar” (4.° parágrafo).
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“Mesmo assim a insônia impera” (3.° parágrafo).
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“Desejo é o sinônimo mais preciso da palavra ‘sonho’” (2.° parágrafo).
Solução
Alternativa Correta: A) “Pedro Calderón de la Barca dramatizou a liberdade de construir o próprio destino” (4.° parágrafo).
A resposta correta é a alternativa A porque a frase "Pedro Calderón de la Barca dramatizou a liberdade de construir o próprio destino" contém um verbo transitivo direto, "dramatizou", que pode ser transformado em voz passiva. Nesse caso, a estrutura passiva resulta na frase "A liberdade de construir o próprio destino foi dramatizada por Pedro Calderón de la Barca". Essa reescrita é possível devido à presença de um objeto direto claro, que é o foco da ação.
Nas outras alternativas, os verbos não apresentam a mesma transitividade. Por exemplo, na alternativa B, "é gritante" utiliza o verbo de ligação "é", que não permite a formação de voz passiva. Da mesma forma, na alternativa C, o verbo "é" novamente é de ligação e, portanto, não pode ser reescrito na voz passiva. Na alternativa D, "imperar" é um verbo intransitivo, que também não admite transformação para a voz passiva. Por fim, na alternativa E, "é" se repete como verbo de ligação.
Assim, a única opção que permite a conversão para a voz passiva é a alternativa A, destacando a estrutura gramatical necessária para essa mudança. Essa característica específica do verbo transitivo direto é o que justifica a escolha correta da alternativa.
Institução: UNIFESP
Ano da Prova: 2021
Assuntos: Interpretação Textual
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