Disciplina: Língua Portuguesa 0 Curtidas
“Acreditava-se que era a vontade de Deus que alguns - UNIFESP 2018
Para responder a questão, leia o trecho do livro Abolição, da historiadora brasileira Emília Viotti da Costa.
Durante três séculos (do século XVI ao XVIII) a escravidão foi praticada e aceita sem que as classes dominantes questionassem a legitimidade do cativeiro. Muitos chegavam a justificar a escravidão, argumentando que graças a ela os negros eram retirados da ignorância em que viviam e convertidos ao cristianismo. A conversão libertava os negros do pecado e lhes abria a porta da salvação eterna. Dessa forma, a escravidão podia até ser considerada um benefício para o negro! Para nós, esses argumentos podem parecer cínicos, mas, naquela época, tinham poder de persuasão. A ordem social era considerada expressão dos desígnios da Providência Divina e, portanto, não era questionada. Acreditava-se que era a vontade de Deus que alguns nascessem nobres, outros, vilões, uns, ricos, outros, pobres, uns, livres, outros, escravos. De acordo com essa teoria, não cabia aos homens modificar a ordem social. Assim, justificada pela religião e sancionada pela Igreja e pelo Estado – representantes de Deus na Terra –, a escravidão não era questionada. A Igreja limitava-se a recomendar paciência aos escravos e benevolência aos senhores.
Não é difícil imaginar os efeitos dessas ideias. Elas permitiam às classes dominantes escravizar os negros sem problemas de consciência. Os poucos indivíduos que no Período Colonial, fugindo à regra, questionaram o tráfico de escravos e lançaram dúvidas sobre a legitimidade da escravidão, foram expulsos da Colônia e o tráfico de escravos continuou sem impedimentos. Apenas os próprios escravos questionavam a legitimidade da instituição, manifestando seu protesto por meio de fugas e insurreições. Encontravam, no entanto, pouca simpatia por parte dos homens livres e enfrentavam violenta repressão.
(A abolição, 2010.)
“Acreditava-se que era a vontade de Deus que alguns nascessem nobres, outros, vilões, uns, ricos, outros, pobres, uns, livres, outros, escravos.” (1.° parágrafo) No contexto em que se insere, o termo “vilão” deve ser entendido na seguinte acepção:
-
“camponês medieval que trabalhava para um senhor feudal”.
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“aquele que é indigno, abjeto, desprezível”.
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“aquele que não pertence à nobreza, plebeu”.
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“aquele que não tem religião, ateu”.
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“aquele que reside em vila”.
Solução
Alternativa Correta: C) “aquele que não pertence à nobreza, plebeu”.
A alternativa C é a mais adequada porque, no contexto apresentado, o termo “vilão” refere-se a alguém que não pertence à nobreza, ou seja, a uma pessoa de classe social inferior. Na obra de Emília Viotti da Costa, a ideia de que a ordem social era vista como uma expressão da vontade divina implica uma hierarquia rígida, onde os nobres eram privilegiados e os vilões eram aqueles que ocupavam as posições mais baixas na estrutura social.
O uso do termo "vilão" neste contexto destaca a dicotomia entre as classes sociais, enfatizando a visão de que a posição de cada indivíduo na sociedade era predeterminada por Deus. Essa concepção reforçava a ideia de que não cabia aos homens questionar essa ordem, levando a uma aceitação generalizada da escravidão como parte do plano divino.
Além disso, a distinção entre nobres e vilões evidencia a lógica que sustentava a escravidão, onde os escravizados eram vistos como pertencentes a uma classe inferior, legitimando sua submissão. Portanto, entender "vilão" como um plebeu é crucial para captar a crítica histórica presente no texto, que aborda a desigualdade e a naturalização da opressão ao longo dos séculos.
Institução: UNIFESP
Ano da Prova: 2018
Assuntos: Interpretação Textual
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