Disciplina: Língua Portuguesa 0 Curtidas

Em relação ao projeto, a postura do autor é de (A) - UNIFESP 2017

Atualizado em 29/10/2024

Leia o excerto do livro 24/7: capitalismo tardio e os fins do sono de Jonathan Crary para responder a questão.

No fim dos anos 1990, um consórcio espacial russo-europeu anunciou que construiria e lançaria satélites que refletiriam a luz do Sol para a Terra. O esquema previa colocar em órbita uma cadeia de satélites, sincronizados com o Sol, a uma altitude de 1700 quilômetros, cada um deles equipado com refletores parabólicos retráteis, da espessura de uma folha de papel. Quando completamente abertos, cada satélite-espelho, com duzentos metros de diâmetro, teria a capacidade de iluminar uma área da Terra de 25 quilômetros quadrados, com uma luminosidade quase cem vezes maior do que a da Lua. Em princípio, o projeto visava fornecer iluminação para a exploração industrial de recursos naturais em regiões remotas com longas noites polares, na Sibéria e no leste da Rússia, permitindo atividade ao ar livre, noite e dia. Mas o consórcio acabou expandindo seus planos para a possibilidade de oferecer iluminação noturna a regiões metropolitanas inteiras. Calculando que se reduziriam os custos de energia da iluminação elétrica, o slogan da empresa era “Luz do dia a noite toda”.
A oposição ao projeto surgiu de imediato e de diversas frentes. Astrônomos temeram os efeitos nefastos da observação espacial a partir da Terra. Cientistas e ambientalistas apontaram consequências fisiológicas prejudiciais tanto aos animais quanto aos humanos, uma vez que a ausência de alternância regular entre dia e noite interromperia vários padrões metabólicos, inclusive o sono. Associações culturais e humanitárias também protestaram, alegando que o céu noturno é um bem comum ao qual toda a humanidade tem direito, e que desfrutar da escuridão da noite e observar as estrelas é um direito humano básico que nenhuma empresa pode eliminar. De qualquer modo, direito ou privilégio, ele já está sendo violado para mais da metade da população do planeta, em cidades que estão permanentemente envoltas na penumbra da poluição e na intensa iluminação.
Defensores do projeto, todavia, afirmaram que tal tecnologia diminuiria o uso noturno de eletricidade e que a perda da noite e de sua escuridão seria um preço razoável, considerando-se a redução do consumo global de energia. Seja como for, esse empreendimento, ao fim inviável, ilustra o imaginário contemporâneo, para o qual um estado de iluminação contínua é inseparável da ininterrupta operação de troca e circulação globais. Em seus excessos empresariais, o projeto é uma expressão hiperbólica de uma intolerância institucional a tudo que obscureça ou impeça uma situação de visibilidade instrumentalizada e constante.

(24/7: capitalismo tardio e os fins do sono, 2014. Adaptado.)

Em relação ao projeto, a postura do autor é de

  1. indiferença.

  2. imparcialidade.

  3. neutralidade.

  4. apoio.

  5. oposição.


Solução

Alternativa Correta: E) oposição.

A alternativa correta é a E) oposição porque o autor Jonathan Crary, no excerto retirado do livro 24/7: capitalismo tardio e os fins do sono, critica diretamente o projeto de lançar satélites para refletir luz solar na Terra, expondo sua insatisfação com as implicações negativas de tal iniciativa. O autor destaca que o projeto é uma "expressão hiperbólica de uma intolerância institucional" em relação à escuridão e à interrupção de uma visibilidade constante e "instrumentalizada". Esse tom crítico e a escolha das palavras mostram sua desaprovação quanto ao impacto do projeto na natureza e na vida humana.

Além disso, Crary levanta preocupações de cientistas e ambientalistas sobre os efeitos prejudiciais da iluminação contínua, como a interrupção dos ritmos naturais de animais e seres humanos. Ele também ressalta que esse tipo de empreendimento comercial tende a violar o direito da humanidade ao céu noturno, um bem comum importante para a cultura e o bem-estar. Assim, ele posiciona-se claramente contrário à ideia de uma "luz do dia a noite toda", pois essa ideia representa, para ele, um sintoma de um capitalismo que busca eliminar o sono e o descanso em prol da produtividade ininterrupta.

Por fim, o título do livro, 24/7: capitalismo tardio e os fins do sono, já sugere uma visão crítica do autor sobre o estado atual de um mundo que busca operar continuamente, eliminando os intervalos de pausa. Para Crary, o projeto dos satélites representa uma expansão desse sistema que visa manter uma operação constante e global de consumo e troca, mesmo que isso signifique sacrificar elementos fundamentais para a saúde e a cultura humana.

Institução: UNIFESP

Ano da Prova: 2017

Assuntos: Interpretação Textual

Vídeo Sugerido: YouTube

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