Disciplina: Língua Portuguesa 0 Curtidas
Já na frase de abertura das Memórias de um sargento de - FGV 2015
Texto para à questão
Era no tempo do rei
Uma das quatro esquinas que formam as ruas do Ouvidor e da Quitanda, cortando-se mutuamente, chamava-se nesse tempo - O canto dos meirinhos -; e bem lhe assentava o nome, porque era aí o lugar de encontro favorito de todos os indivíduos dessa classe (que gozava então de não pequena consideração). Os meirinhos de hoje não são mais do que a sombra caricata dos meirinhos do tempo do rei; esses eram gente temível e temida, respeitável e respeitada; formavam um dos extremos da formidável cadeia judiciária que envolvia todo o Rio de Janeiro no tempo em que a demanda era entre nós um elemento de vida: o extremo oposto eram os desembargadores. Ora, os extremos se tocam, e estes, tocando-se, fechavam o círculo dentro do qual se passavam os terríveis combates das citações, provarás, razões principais e finais, e todos esses trejeitos judiciais que se chamava o processo.
Daí sua influência moral.
Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias.
Já na frase de abertura das Memórias de um sargento de milícias – “Era no tempo do rei.” –, que remete ao mesmo tempo à abertura-padrão dos contos da carochinha e ao período joanino da história do Brasil, manifestam-se as duas modalidades do tempo presentes nessa obra: uma, de caráter lendário e intemporal e, outra, de caráter histórico bem determinado.
O convívio dessas duas modalidades do tempo indica que, do ponto de vista dessa obra, a história brasileira caracterizou-se pela conjunção de
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mudança e imobilismo.
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realismo e alucinação.
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religiosidade e materialismo.
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liberdade e opressão.
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localismo e cosmopolitismo.
Solução
Alternativa Correta: A) mudança e imobilismo.
Costuma-se classificar Memórias de um Sargento de Milícias como um romance “sem culpa”, em que as personagens agem conforme sua vontade, o que remete ao caráter fantasioso dos contos da carochinha. Elas vão tentando driblar a lei e as imposições “do certo e do errado” da sociedade joanina (1808-1821), algo imóvel politicamente. Considerando-se a “história brasileira”, a resposta é mudança e imobilismo. Considerando-se o estudo literário dessa narrativa, existe liberdade e opressão, conforme estudo canônico de Antonio Candido, Dialética da Malandragem. O crítico afirma que na sociedade joanina misturam-se a ordem e a desordem, há um jogo constante entre a liberdade das personagens e a opressão, que é representada pelo major Vidigal, o símbolo da ordem relativa, manipulada pelo tráfico de influências.
Resolução adaptada de: Curso Objetivo
Institução: FGV
Ano da Prova: 2015
Assuntos: Interpretação Textual
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