Disciplina: Língua Portuguesa 0 Curtidas

Leia o texto para responder à questão. Nessa mesma - FUVEST 2021

Atualizado em 13/05/2024

Leia o texto para responder à questão.

Nessa mesma noite, leu-lhe o artigo em que advertia o partido da conveniência de não ceder às perfídias do poder, apoiando em algumas províncias certa gente corrupta e sem valor. Eis aqui a conclusão:
“Os partidos devem ser unidos e disciplinados. Há quem pretenda (mirabile dictu!*) que essa disciplina e união não podem ir ao ponto de rejeitar os benefícios que caem das mãos dos adversários. Risum teneatis!** Quem pode proferir tal blasfêmia sem que lhe tremam as carnes? Mas suponhamos que assim seja, que a oposição possa, uma ou outra vez, fechar os olhos aos desmandos do governo, à postergação das leis, aos excessos da autoridade, à perversidade e aos sofismas. Quid inde?***
Tais casos, — aliás, raros, — só podiam ser admitidos quando favorecessem os elementos bons, não os maus. Cada partido tem os seus díscolos e sicofantas. É interesse dos nossos adversários ver-nos afrouxar, a troco da animação dada à parte corrupta do partido. Esta é a verdade; negá-lo é provocar-nos à guerra intestina, isto é, à dilaceração da alma nacional... Mas, não, as ideias não morrem; elas são o lábaro da justiça. Os vendilhões serão expulsos do templo; ficarão os crentes e os puros, os que põem acima dos interesses mesquinhos, locais e passageiros a vitória indefectível dos princípios. Tudo que não for isto ter-nos-á contra si. Alea jacta est****”.
Rubião aplaudiu o artigo; achava-o excelente. Talvez pouco enérgico. Vendilhões, por exemplo, era bem dito; mas ficava melhor vis vendilhões.
— Vis vendilhões? Há só um inconveniente, ponderou Camacho. É a repetição dos vv. Vis vem... Vis vendilhões; não sente que o som fica desagradável?
— Mas lá em cima há vés vis...
— Vae victis. Mas é uma frase latina. Podemos arranjar outra coisa: vis mercadores.
—Vis mercadores é bom.
— Contudo, mercadores não tem a força de vendilhões.
— Então, por que não deixa vendilhões? Vis vendilhões é forte; ninguém repara no som. Olhe, eu nunca dou por isso. Gosto de energia. Vis vendilhões.

Machado de Assis, Quincas Borba.
* “coisa admirável de dizer.” ** “Contereis o riso.” *** “O que então?” **** “A sorte está lançada.”

  1. Segundo Camacho, os partidos possuem entre os seus membros “díscolos e sicofantas”, isto é, dissidentes e caluniadores. De que modo a retórica do político constitui um artifício para persuadir o seu ouvinte quanto aos erros de alguns correligionários?

  2. A expressão latina Vae victis! (“Ai dos vencidos!”) lembra ao leitor a máxima da filosofia que Quincas Borba apresenta a Rubião no início do romance. Como essas duas frases se contrapõem na trajetória do protagonista?


Solução

Alternativa Correta: )

a) Camacho possui um jornal político, O Atalaia, do grupo de oposição e por mais que tenha um discurso crítico ao status quo, busca, na verdade, obter privilégios e benefícios do partido que está no poder. A retórica de Camacho é sinuosa, praticamente um sofisma, e usa de argumentos tortuosos para convencer o ouvinte. Nesse discurso, entende-se que a adesão de alguns membros do partido de oposição ao governo não significa, num raciocínio oportunista e imoral, trair os ideais oposicionistas, desde que os que adiram sejam os bons. Conclui-se que a oposição cede quando aparece uma oportunidade de obter privilégios, passando a dar sustentação ao governo. Segundo Camacho, isso não trai os ideais da oposição.

b) Na trajetória de Rubião, essas duas frases se contrapõem, porque a máxima de Humanitas ou Humanitismo, “ao vencedor, as batatas”, refere-se metaforicamente aos que iludiram Rubião e ficaram com o seu dinheiro e até causaram o desequilíbrio mental do protagonista. Os vencedores são Palha, Sofia, Camacho, enfim, a burguesia da Corte que espoliou Rubião. A frase Vae victis (Ai dos vencidos) refere-se ao outro lado dessa relação ambígua, o perdedor Rubião, que, herdeiro do fortuna de Quincas Borba, se considerava vencedor, digno da máxima de Humanitas. Vai para o Rio de Janeiro, onde é enganado por várias personagens, perdendo todos os bens que tinha, inclusive a razão. Rubião morre, em Barbacena, louco, miserável, sem a mínima compaixão.

Créditos da Resolução: Curso Objetivo

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Recebedor: Wesley Rodrigues

Institução: FUVEST

Ano da Prova: 2021

Assuntos: Expressões, Interpretação textual, Leitura

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