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O pronome “te”, empregado no segundo verso da última - UNIFESP 2017
Para responder a questão, leia o poema “Dissolução”, de Carlos Drummond de Andrade (1902- 1987), que integra o livro Claro enigma, publicado originalmente em 1951.
Escurece, e não me seduz
tatear sequer uma lâmpada.
Pois que aprouve1 ao dia findar,
aceito a noite.
E com ela aceito que brote
uma ordem outra de seres
e coisas não figuradas.
Braços cruzados.
Vazio de quanto amávamos,
mais vasto é o céu. Povoações
surgem do vácuo.
Habito alguma?
E nem destaco minha pele
da confluente escuridão.
Um fim unânime concentra-se
e pousa no ar. Hesitando.
E aquele agressivo espírito
que o dia carreia2 consigo,
já não oprime. Assim a paz,
destroçada.
Vai durar mil anos, ou
extinguir-se na cor do galo?
Esta rosa é definitiva,
ainda que pobre.
Imaginação, falsa demente,
já te desprezo. E tu, palavra.
No mundo, perene trânsito,
calamo-nos.
E sem alma, corpo, és suave.
(Claro enigma, 2012.)
1 aprazer: causar ou sentir prazer; contentar (-se).
2 carrear: carregar.
O pronome “te”, empregado no segundo verso da última estrofe, refere-se a
-
“imaginação”.
-
“palavra”.
-
“rosa”.
-
“mundo”.
-
“corpo”.
Solução
Alternativa Correta: A) “imaginação”.
A alternativa correta é a letra A) porque o pronome “te”, no segundo verso da última estrofe, refere-se à “imaginação”. No verso anterior, o eu lírico declara “Imaginação, falsa demente, já te desprezo”, empregando o pronome “te” para endereçar diretamente sua desaprovação à imaginação, tratando-a como uma entidade personificada e criticável. Esse uso marca um afastamento crítico do eu lírico em relação à imaginação, que ele rejeita como uma ilusão.
O poema “Dissolução” reflete uma visão pessimista e melancólica, onde o eu lírico questiona o valor de elementos que antes poderiam ter trazido conforto ou significado, como a imaginação e a palavra. A imaginação, nesse contexto, é vista como uma “falsa demente”, ou seja, algo enganoso que cria ilusões em vez de representar a realidade tal como ela é. A referência direta com o pronome “te” reforça a intenção do eu lírico de se distanciar de tais ilusões.
Assim, a escolha do pronome “te” para se referir à imaginação é significativa, pois ressalta o tom de ruptura que o eu lírico adota em relação às construções ilusórias. Esse distanciamento ajuda a compor o tom de desencanto e aceitação do vazio que permeia o poema, condizente com a estética do livro Claro enigma, em que Drummond explora a inquietude e a finitude.
Institução: UNIFESP
Ano da Prova: 2017
Assuntos: Interpretação Textual
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