Disciplina: Língua Portuguesa 0 Curtidas

Para reforçar a caracterização do “menino diabo” - UNIFESP 2011

Atualizado em 30/11/2024

Instrução: A questão por base o fragmento.

(...) Um poeta dizia que o menino é o pai do homem. Se isto é verdade, vejamos alguns lineamentos do menino.
Desde os cinco anos merecera eu a alcunha de “menino diabo”; e verdadeiramente não era outra coisa; fui dos mais malignos do meu tempo, arguto, indiscreto, traquinas e voluntarioso. Por exemplo, um dia quebrei a cabeça de uma escrava, porque me negara uma colher do doce de coco que estava fazendo, e, não contente com o malefício, deitei um punhado de cinza ao tacho, e, não satisfeito da travessura, fui dizer à minha mãe que a escrava é que estragara o doce “por pirraça”; e eu tinha apenas seis anos. Prudêncio, um moleque de casa, era o meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no chão, recebia um cordel nos queixos, à guisa de freio, eu trepava-lhe ao dorso, com uma varinha na mão, fustiga - va-o, dava mil voltas a um e outro lado, e ele obedecia, – algumas vezes gemendo – mas obedecia sem dizer pala - vra, ou, quando muito, um – “ai, nhonhô!” – ao que eu retorquia: “Cala a boca, besta!” – Esconder os chapéus das visitas, deitar rabos de papel a pessoas graves, puxar pelo rabicho das cabeleiras, dar beliscões nos braços das matronas, e outras muitas façanhas deste jaez, eram mostras de um gênio indócil, mas devo crer que eram também expressões de um espírito robusto, porque meu pai tinha-me em grande admiração; e se às vezes me repreendia, à vista de gente, fazia-o por simples forma - lidade: em particular dava-me beijos.
Não se conclua daqui que eu levasse todo o resto da minha vida a quebrar a cabeça dos outros nem a esconder-lhes os chapéus; mas opiniático, egoísta e algo contemptor dos homens, isso fui; se não passei o tempo a esconder-lhes os chapéus, alguma vez lhes puxei pelo rabicho das cabeleiras.

(Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas.)

Para reforçar a caracterização do “menino diabo” atri - buída ao narrador, é utilizado principalmente o seguinte recurso estilístico:

  1. amplo uso de metáforas que se reportam aos compor - tamentos negativos do menino.

  2. seleção lexical que emprega muitos vocábulos raros à época, particularmente os adjetivos.

  3. recurso frequente ao discurso direto para exemplificar as traquinagens do garoto.

  4. utilização recorrente de orações coordenadas sindéticas aditivas.

  5. emprego significativo de orações subordinadas adjeti - vas restritivas.


Solução

Alternativa Correta: D) utilização recorrente de orações coordenadas sindéticas aditivas.

A alternativa D é correta porque, no fragmento de Memórias póstumas de Brás Cubas, o narrador utiliza uma estrutura de orações coordenadas sindéticas aditivas para enumerar suas diversas travessuras e comportamentos cruéis enquanto criança. O uso frequente da conjunção "e" liga as ações do menino de forma acumulativa, criando uma sensação de continuidade e intensidade nas suas atitudes. Essa técnica serve para intensificar a caracterização do narrador como o "menino diabo", ao apresentar de maneira quase ininterrupta suas ações negativas e travessuras, sem pausas reflexivas.

Ao listar as diversas maldades que cometeu, como "quebrar a cabeça de uma escrava", "deitar um punhado de cinza ao tacho" ou "puxar pelo rabicho das cabeleiras", a repetição do "e" nas orações transmite a ideia de uma criança incorrigível, que não se detém ou reflete sobre as consequências de suas ações. Essa característica reforça a visão de um "gênio indócil" e um espírito "robusto", conforme o próprio narrador sugere, o que aumenta a percepção de que o comportamento cruel é contínuo e sem arrependimentos.

O uso das orações coordenadas aditivas, portanto, não apenas amplia o número de exemplos das traquinagens do menino, mas também sublinha o caráter impetuoso e persistente do narrador. Assim, o recurso estilístico empregado por Machado de Assis ajuda a construir uma figura de criança travessa e impiedosa, cuja personalidade egoísta e irreverente se perpetua ao longo do texto.

Institução: UNIFESP

Ano da Prova: 2011

Assuntos: Interpretação Textual

Vídeo Sugerido: YouTube

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