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Certa vez, quando dei uma palestra na Zona Leste da cidade, uma

Atualizado em 29/02/2024

Certa vez, quando dei uma palestra na Zona Leste da cidade, uma senhora me falou sobre seus dois filhos. Segundo afirmou, o primeiro era mais inteligente.

— Tenho preferência por ele, sim. Seria mentira dizer que não. A conversa me provocou uma sensação desagradável. Pensei na vida do caçula. Qual seria seu sentimento, ao perceber que a mãe prefere o mais velho? Sou escritor. Imaginei os gestos do cotidiano: reprimendas mais fortes; presentes piores no aniversário ou Natal e talvez até comentários desdenhosos. Tomei consciência de que isso acontece muito mais do que se comenta. Fala-se muito de bullying. Livros abordam violências verbais e até agressões físicas que ocorrem nas escolas. O ataque costuma ser dirigido a quem é de alguma maneira diferente: os gordinhos, os maus esportistas, os nerds, os mais pobres, entre outros. Até um sotaque pode induzir os valentões da turma à chacota. Submetidas a uma pressão constante, as vítimas muitas vezes se rebelam. E dentro da família? Um amigo passou a infância perseguido pelo irmão mais velho. Tudo era motivo para zombaria e até ataques físicos. A mãe, ausente, não punia o agressor. Hoje os irmãos têm uma relação distante, mal se falam. Agora a mãe se lamenta. Não entende por que os filhos não se dão bem.

— Meu irmão foi meu pior inimigo! Como posso gostar dele agora? — ouvi o mais novo dizer. A agressão pode se voltar contra um dos pais. Soube de um vizinho que gritava com o pai e o ameaçava por qualquer pretexto porque tinha pouco dinheiro. Não usava drogas. O velho, frágil, não conseguia enfrentá-lo.

— Você é um incapaz — dizia o filho. — Nunca soube ganhar dinheiro! Muitas vezes a própria mãe cria [fomenta] a situação. Uma figura da sociedade, magra e bem vestida, parece esconder sua filha, que é gorda. A garota nunca é vista em companhia da mãe nas festas que ela costuma frequentar. Em represália, veste-se de maneira relaxada. Mal penteia os cabelos.

— Minha mãe tem vergonha de mim! — já desabafou. É difícil tocar nesse assunto. Cada família possui uma dinâmica diferente. Nem sempre as situações são evidentes, mas o(a) atingido(a) percebe o desprezo. Ou a comparação. É comum uma criança de olhos azuis ser coberta de elogios. Ninguém fala do irmão de olhos castanhos. Só a mãe pode ajudar, valorizando os dois. Ou então um dos membros perde o emprego. A família passa a humilhá-lo.

— Não vou sustentar vagabundo! — certa vez ouvi a irmã, secretária, ameaçar o irmão. Se é difícil encontrar trabalho, a agressão aumenta. E a pessoa deprimida tem mais dificuldade ainda. Perde o prumo. Pais inventam sonhos para os filhos. Desejam que se tornem bem-sucedidos, talvez famosos. Já vi homem com bebê no colo garantir:

— Este aqui vai ser jogador da seleção. E ganhar a Copa! O bebê sorri, sem saber da cilada. Pode ter pendor para a informática. Talvez nunca seja um craque. Passará horas diante da telinha. Também já vi pai reclamar:

— Sai do computador, moleque! Vai jogar futebol! O filho passa a ser constrangido. Pressionado. Conheci pessoas inteligentes totalmente desestruturadas, incapazes de se dedicar a uma profissão, por falta de apoio familiar. Muitas vezes, o que parecem ser gestos de amor, de incentivo, são ameaças porque o filho ou irmão não segue um padrão. É difícil, mas cada família deve abrir sua caixa-preta. Adquirir a coragem de encarar suas falhas. E aprender a trocar a agressão pelo abraço.

De acordo com o texto, é correto afirmar que:

A) O problema do bulling é mais acentuado nos locais mais pobres e nas periferias das grandes cidades.
B) O autor admite que as reações das vitimas de intimidação na família ficam apenas no plano da imaginação
C) O fator monetário é sempre a motivação para as agressões físicas e morais por membros da família
D) A pressão familiar para a escolha profissional de jovens pode ser um dos fatores que desencadeiam o bulling em grupos familiares
E) A hostilidade que ocorre no âmbito familiar provoca abalos emocionais mais graves do que aqueles ocorridos no ambiente escolar


Solução

Alternativa correta: D) A pressão familiar para a escolha profissional de jovens pode ser um dos fatores que desencadeiam o bulling em grupos familiares. De acordo com o gabarito AVA.

Segundo o texto, a pressão familiar pode ser um dos fatores para o desencadeamento de bullying em grupos familiares:
"O filho passa a ser constrangido. Pressionado. Conheci pessoas inteligentes totalmente desestruturadas, incapazes de se dedicar a uma profissão, por falta de apoio familiar."

Resolução adaptada de: Brainly

Assuntos: Interpretação de Texto

Vídeo Sugerido: YouTube

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