Disciplina: Língua Portuguesa 0 Curtidas
Ao comparar o canavial ao mar, a imagem construída - UNIFESP 2014
O nada que é
Um canavial tem a extensão
ante a qual todo metro é vão.
Tem o escancarado do mar
que existe para desafiar
que números e seus afins
possam prendê-lo nos seus sins.
Ante um canavial a medida
métrica é de todo esquecida,
porque embora todo povoado
povoa-o o pleno anonimato
que dá esse efeito singular:
de um nada prenhe como o mar.
(João Cabral de Melo Neto.
Museu de tudo e depois, 1988.)
Ao comparar o canavial ao mar, a imagem construída pelo eu lírico formaliza-se em
-
uma assimetria entre a ideia de nada e a de anonimato.
-
uma descontinuidade entre a ideia de mar e a de cana vial.
-
uma contradição entre a ideia de extensão e a de canavial.
-
um paradoxo entre a ideia de nada e a de imensidão.
-
um eufemismo entre a ideia de metro e a de medida.
Solução
Alternativa Correta: D) um paradoxo entre a ideia de nada e a de imensidão.
A resposta correta é a alternativa D porque o poema constrói uma imagem paradoxal ao comparar o canavial ao mar, especialmente no verso “um nada prenhe como o mar”. Esse verso apresenta um paradoxo evidente: o "nada", que denota vazio ou ausência, é descrito como "prenhe", ou seja, cheio, rico, carregado. Essa contradição intencional cria um efeito poético ao associar a imensidão do mar e do canavial a uma plenitude quase inefável, desafiando a lógica usual.
A relação entre "nada" e "imensidão" reforça essa construção paradoxal, pois o eu lírico descreve o canavial como algo vasto e, ao mesmo tempo, desprovido de individualidade, remetendo ao anonimato. Assim como o mar, o canavial parece infinito e inclassificável por medidas exatas ("todo metro é vão"), destacando sua singularidade que transcende a objetividade numérica.
As outras alternativas não se sustentam porque não abordam corretamente a essência da comparação. Não há assimetria (A) ou descontinuidade (B) entre as ideias apresentadas; o poema estabelece conexão entre o canavial e o mar. Não há contradição entre "extensão" e "canavial" (C), mas sim entre vazio e plenitude. Também não ocorre eufemismo (E) em relação ao "metro" e à "medida"; a ideia é de inutilidade da métrica, não suavização. Portanto, a D é a única que capta o paradoxo central.
Institução: UNIFESP
Ano da Prova: 2014
Assuntos: Interpretação Textual
Vídeo Sugerido: YouTube