Disciplina: Língua Portuguesa 0 Curtidas

Em “É dela que resulta largamente a singular tibieza - UNIFESP 2017

Atualizado em 28/10/2024

Leia o trecho inicial de Raízes do Brasil, do historiador brasileiro Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), para responder a questão.

A tentativa de implantação da cultura europeia em extenso território, dotado de condições naturais, se não adversas, largamente estranhas à sua tradição milenar, é, nas origens da sociedade brasileira, o fato dominante e mais rico em consequências. Trazendo de países distantes nossas formas de convívio, nossas instituições, nossas ideias, e timbrando em manter tudo isso em ambiente muitas vezes desfavorável e hostil, somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra. Podemos construir obras excelentes, enriquecer nossa humanidade de aspectos novos e imprevistos, elevar à perfeição o tipo de civilização que representamos: o certo é que todo o fruto de nosso trabalho ou de nossa preguiça parece participar de um sistema de evolução próprio de outro clima e de outra paisagem.
Assim, antes de perguntar até que ponto poderá alcançar bom êxito a tentativa, caberia averiguar até onde temos podido representar aquelas formas de convívio, instituições e ideias de que somos herdeiros. É significativa, em primeiro lugar, a circunstância de termos recebido a herança através de uma nação ibérica. A Espanha e Portugal são, com a Rússia e os países balcânicos (e em certo sentido também a Inglaterra), um dos territórios-ponte pelos quais a Europa se comunica com os outros mundos. Assim, eles constituem uma zona fronteiriça, de transição, menos carregada, em alguns casos, desse europeísmo que, não obstante, mantêm como um patrimônio necessário.
Foi a partir da época dos grandes descobrimentos marítimos que os dois países entraram mais decididamente no coro europeu. Esse ingresso tardio deveria repercutir intensamente em seus destinos, determinando muitos aspectos peculiares de sua história e de sua formação espiritual. Surgiu, assim, um tipo de sociedade que se desenvolveria, em alguns sentidos, quase à margem das congêneres europeias, e sem delas receber qualquer incitamento que já não trouxesse em germe.
Quais os fundamentos em que assentam de preferência as formas de vida social nessa região indecisa entre a Europa e a África, que se estende dos Pireneus a Gibraltar? Como explicar muitas daquelas formas, sem recorrer a indicações mais ou menos vagas e que jamais nos conduziriam a uma estrita objetividade?
Precisamente a comparação entre elas e as da Europa de além-Pireneus faz ressaltar uma característica bem peculiar à gente da península Ibérica, uma característica que ela está longe de partilhar, pelo menos na mesma intensidade, com qualquer de seus vizinhos do continente. É que nenhum desses vizinhos soube desenvolver a tal extremo essa cultura da personalidade, que parececonstituir o traço mais decisivo na evolução da gente hispânica, desde tempos imemoriais. Pode dizer-se, realmente, que pela importância particular que atribuem ao valor próprio da pessoa humana, à autonomia de cada um dos homens em relação aos semelhantes no tempo e no espaço, devem os espanhóis e portugueses muito de sua originalidade nacional. [...]
É dela que resulta largamente a singular tibieza das formas de organização, de todas as associações que impliquem solidariedade e ordenação entre esses povos. Em terra onde todos são barões não é possível acordo coletivo durável, a não ser por uma força exterior respeitável e temida.

(Raízes do Brasil, 2000.)

Em “É dela que resulta largamente a singular tibieza das formas de organização, de todas as associações que impliquem solidariedade e ordenação entre esses povos.” (7.° parágrafo), o termo destacado pode ser substituído, sem prejuízo para o sentido do texto, por

  1. constância.

  2. firmeza.

  3. estranheza.

  4. combinação.

  5. fraqueza.


Solução

Alternativa Correta: E) fraqueza.

A resposta correta é a alternativa E), que sugere a substituição do termo "tibieza" por "fraqueza". No contexto da frase, "tibieza" refere-se à falta de força ou determinação nas formas de organização social entre os povos ibéricos, o que é corroborado pela definição do termo, que indica um estado de debilidade ou frouxidão. Essa conotação se encaixa perfeitamente na argumentação do autor, que analisa as características da sociedade ibérica e como isso impacta a solidariedade e a ordem social.

A ideia de "fraqueza" se relaciona diretamente com a observação de que, em uma sociedade onde "todos são barões", não há condições para a formação de um acordo coletivo durável sem uma força externa. Essa fraqueza nas formas de organização social sugere uma fragilidade nas associações que deveriam promover solidariedade e estrutura, alinhando-se ao conceito de "tibieza" como algo que carece de vigor e consistência.

As outras opções, como "constância", "firmeza" e "estranheza", não se ajustam ao sentido da frase, pois vão na contramão da ideia de debilidade que "tibieza" transmite. Por exemplo, "constância" e "firmeza" têm conotações positivas que não refletem a fragilidade que o autor critica, enquanto "estranheza" não é um sinônimo adequado nesse contexto. Portanto, "fraqueza" é a única escolha que preserva a essência da crítica apresentada por Sérgio Buarque de Holanda.

Institução: UNIFESP

Ano da Prova: 2017

Assuntos: Interpretação Textual

Vídeo Sugerido: YouTube

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