Disciplina: Língua Portuguesa 0 Curtidas

Em “Podemos [...] elevar à perfeição o tipo de civiliza - UNIFESP 2018

Atualizado em 28/10/2024

Leia o trecho inicial de Raízes do Brasil, do historiador brasileiro Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), para responder a questão.

A tentativa de implantação da cultura europeia em extenso território, dotado de condições naturais, se não adversas, largamente estranhas à sua tradição milenar, é, nas origens da sociedade brasileira, o fato dominante e mais rico em consequências. Trazendo de países distantes nossas formas de convívio, nossas instituições, nossas ideias, e timbrando em manter tudo isso em ambiente muitas vezes desfavorável e hostil, somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra. Podemos construir obras excelentes, enriquecer nossa humanidade de aspectos novos e imprevistos, elevar à perfeição o tipo de civilização que representamos: o certo é que todo o fruto de nosso trabalho ou de nossa preguiça parece participar de um sistema de evolução próprio de outro clima e de outra paisagem.
Assim, antes de perguntar até que ponto poderá alcançar bom êxito a tentativa, caberia averiguar até onde temos podido representar aquelas formas de convívio, instituições e ideias de que somos herdeiros. É significativa, em primeiro lugar, a circunstância de termos recebido a herança através de uma nação ibérica. A Espanha e Portugal são, com a Rússia e os países balcânicos (e em certo sentido também a Inglaterra), um dos territórios-ponte pelos quais a Europa se comunica com os outros mundos. Assim, eles constituem uma zona fronteiriça, de transição, menos carregada, em alguns casos, desse europeísmo que, não obstante, mantêm como um patrimônio necessário.
Foi a partir da época dos grandes descobrimentos marítimos que os dois países entraram mais decididamente no coro europeu. Esse ingresso tardio deveria repercutir intensamente em seus destinos, determinando muitos aspectos peculiares de sua história e de sua formação espiritual. Surgiu, assim, um tipo de sociedade que se desenvolveria, em alguns sentidos, quase à margem das congêneres europeias, e sem delas receber qualquer incitamento que já não trouxesse em germe.
Quais os fundamentos em que assentam de preferência as formas de vida social nessa região indecisa entre a Europa e a África, que se estende dos Pireneus a Gibraltar? Como explicar muitas daquelas formas, sem recorrer a indicações mais ou menos vagas e que jamais nos conduziriam a uma estrita objetividade?
Precisamente a comparação entre elas e as da Europa de além-Pireneus faz ressaltar uma característica bem peculiar à gente da península Ibérica, uma característica que ela está longe de partilhar, pelo menos na mesma intensidade, com qualquer de seus vizinhos do continente. É que nenhum desses vizinhos soube desenvolver a tal extremo essa cultura da personalidade, que parececonstituir o traço mais decisivo na evolução da gente hispânica, desde tempos imemoriais. Pode dizer-se, realmente, que pela importância particular que atribuem ao valor próprio da pessoa humana, à autonomia de cada um dos homens em relação aos semelhantes no tempo e no espaço, devem os espanhóis e portugueses muito de sua originalidade nacional. [...]
É dela que resulta largamente a singular tibieza das formas de organização, de todas as associações que impliquem solidariedade e ordenação entre esses povos. Em terra onde todos são barões não é possível acordo coletivo durável, a não ser por uma força exterior respeitável e temida.

(Raízes do Brasil, 2000.)

Em “Podemos [...] elevar à perfeição o tipo de civilização que representamos” (1.° parágrafo), o termo em destaque exerce a mesma função sintática do trecho destacado em:

  1. “[...] todo o fruto de nosso trabalho ou de nossa preguiça parece participar de um sistema de evolução próprio de outro clima e de outra paisagem.” (1.° parágrafo)

  2. “Esse ingresso tardio deveria repercutir intensamente em seus destinos [...].” (4.° parágrafo)

  3. “[...] somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra.” (1.° parágrafo)

  4. “É significativa, em primeiro lugar, a circunstância de termos recebido a herança através de uma nação ibérica.” (3.° parágrafo)

  5. “Assim, antes de perguntar até que ponto poderá alcançar bom êxito a tentativa [...].” (2.° parágrafo)


Solução

Alternativa Correta: E) “Assim, antes de perguntar até que ponto poderá alcançar bom êxito a tentativa [...].” (2.° parágrafo)

A alternativa correta é a e) “Assim, antes de perguntar até que ponto poderá alcançar bom êxito a tentativa [...].” No trecho em questão, o pronome relativo "que" no enunciado "Podemos [...] elevar à perfeição o tipo de civilização que representamos" atua como objeto direto do verbo "representamos". De forma semelhante, na alternativa escolhida, a oração "até que ponto poderá alcançar bom êxito a tentativa" também exerce a função de objeto direto do verbo "perguntar". Portanto, ambas as construções estão estruturadas como orações subordinadas substantivas objetivas diretas.

Essa relação entre as duas orações ilustra como o autor utiliza construções semelhantes para desenvolver seu argumento. No primeiro caso, o autor está afirmando a capacidade do Brasil de aperfeiçoar sua civilização, enquanto no segundo, ele levanta uma questão sobre a eficácia de uma tentativa anterior. A utilização do pronome relativo "que" e a construção da oração como um objeto direto são chaves para compreender a intenção e o ritmo do texto, permitindo uma análise mais profunda da argumentação de Sérgio Buarque de Holanda.

As outras opções não possuem a mesma estrutura sintática. Por exemplo, na opção a), o trecho apresenta uma frase simples, sem a relação de subordinada, enquanto a b) é uma afirmação sobre um fato, não apresentando a estrutura de um objeto direto. A c) é uma afirmação que não se relaciona com um verbo que pede um objeto direto. A d) descreve uma circunstância e também não se alinha à estrutura sintática que envolve um objeto direto. Portanto, a alternativa e) se destaca como a correta por compartilhar a mesma função sintática da oração destacada no enunciado.

Institução: UNIFESP

Ano da Prova: 2018

Assuntos: Interpretação Textual em Inglês

Vídeo Sugerido: YouTube

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