Disciplina: Língua Portuguesa 0 Curtidas
O efeito cômico produzido pela leitura do requerimento - UNIFESP 2016
A questão focaliza uma passagem da comédia O juiz de paz da roça do escritor Martins Pena (1815-1848).
JUIZ (assentando-se): Sr. Escrivão, leia o outro requerimento.
ESCRIVÃO (lendo): Diz Francisco Antônio, natural de Portugal, porém brasileiro, que tendo ele casado com Rosa de Jesus, trouxe esta por dote uma égua. “Ora, acontecendo ter a égua de minha mulher um filho, o meu vizinho José da Silva diz que é dele, só porque o dito filho da égua de minha mulher saiu malhado como o seu cavalo. Ora, como os filhos pertencem às mães, e a prova disto é que a minha escrava Maria tem um filho que é meu, peço a V. Sa. mande o dito meu vizinho entregar-me o filho da égua que é de minha mulher”. JUIZ: É verdade que o senhor tem o filho da égua preso? JOSÉ DA SILVA: É verdade; porém o filho me pertence, pois é meu, que é do cavalo. JUIZ: Terá a bondade de entregar o filho a seu dono, pois é aqui da mulher do senhor. JOSÉ DA SILVA: Mas, Sr. Juiz... JUIZ: Nem mais nem meios mais; entregue o filho, senão, cadeia.
(Martins Pena. Comédias (1833-1844), 2007.)
O efeito cômico produzido pela leitura do requerimento decorre, principalmente, do seguinte fenômeno ou procedimento linguístico:
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paródia.
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intertextualidade.
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ambiguidade.
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paráfrase.
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sinonímia.
Solução
Alternativa Correta: C) ambiguidade.
Esposa do referente. O ChatGPT disse: ChatGPT A resposta C) é correta porque o efeito cômico na passagem de O Juiz de Paz da Roça de Martins Pena resulta principalmente da ambiguidade da expressão “égua de minha mulher.” Essa frase pode ser interpretada de duas maneiras: como a égua que pertence à esposa de Francisco Antônio e, ao mesmo tempo, como uma referência a sua própria esposa, criando uma confusão intencional que provoca risadas. A ambiguidade gera um jogo de palavras que revela a criatividade e o humor do autor, ao mesmo tempo em que expõe a situação ridícula em que os personagens se encontram.
O uso da ambiguidade é um recurso comum na comédia, pois permite que o público perceba diferentes interpretações de uma mesma expressão, gerando mal-entendidos e conflitos entre os personagens. No contexto da cena, essa ambiguidade se torna ainda mais engraçada à medida que o diálogo avança, pois o juiz, sem perceber a confusão, tenta resolver um conflito envolvendo a posse do "filho da égua." A insistência do juiz em tratar a questão como se fosse simples ignora a complexidade da situação, aumentando o efeito cômico.
Além disso, o contraste entre o tom sério da discussão sobre a propriedade e a natureza absurda do argumento de Francisco Antônio, que compara a linhagem do animal à questão de paternidade humana, contribui para o humor da cena. Martins Pena, ao explorar a ambiguidade linguística, não apenas entretém o público, mas também critica aspectos sociais, como a ignorância e a simplicidade dos personagens, refletindo a realidade da sociedade rural brasileira do século XIX.
Institução: UNIFESP
Ano da Prova: 2016
Assuntos: Interpretação Textual
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