Disciplina: Língua Portuguesa 0 Curtidas
Sempre que haja necessidade expressiva de reforço, de - UNIFESP 2021
Leia o poema de Fernando Pessoa para responder a questão.
Cruz na porta da tabacaria!
Quem morreu? O próprio Alves? Dou
Ao diabo o bem-’star que trazia.
Desde ontem a cidade mudou.
Quem era? Ora, era quem eu via.
Todos os dias o via. Estou
Agora sem essa monotonia.
Desde ontem a cidade mudou.
Ele era o dono da tabacaria.
Um ponto de referência de quem sou.
Eu passava ali de noite e de dia.
Desde ontem a cidade mudou.
Meu coração tem pouca alegria,
E isto diz que é morte aquilo onde estou.
Horror fechado da tabacaria!
Desde ontem a cidade mudou.
Mas ao menos a ele alguém o via,
Ele era fixo, eu, o que vou,
Se morrer, não falto, e ninguém diria:
Desde ontem a cidade mudou.
(Obra poética, 1997.)
Sempre que haja necessidade expressiva de reforço, de ênfase, pode o objeto direto vir repetido. Essa reiteração recebe o nome de objeto direto pleonástico.
(Adriano da Gama Kury.
Novas lições de análise sintática, 1997. Adaptado.)
O eu lírico lança mão desse recurso expressivo no verso
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“Todos os dias o via. Estou” (2.a estrofe)
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“E isto diz que é morte aquilo onde estou.” (4.a estrofe)
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“Ele era fixo, eu, o que vou,” (5.a estrofe)
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“Mas ao menos a ele alguém o via,” (5.a estrofe)
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“Ao diabo o bem-’star que trazia.” (1.a estrofe)
Solução
Alternativa Correta: D) “Mas ao menos a ele alguém o via,” (5.a estrofe)
A resposta correta é a alternativa D, pois ela destaca o uso do objeto direto pleonástico no verso “Mas ao menos a ele alguém o via”. Nesse trecho, o eu lírico utiliza dois elementos que se referem ao mesmo objeto direto, que é “ele”, o dono da tabacaria. A construção “a ele” e “o” reforça a presença desse personagem na vida do eu lírico, enfatizando a relação de familiaridade e importância que ele tinha.
O pleonasmo aqui serve para dar mais ênfase ao fato de que, apesar da morte do dono da tabacaria, havia alguém que realmente o via e reconhecia sua existência. Essa repetição enfatiza a dor da perda, pois o eu lírico reflete sobre a solidão que sente em contraste com a vida mais vibrante que o falecido representava. Essa técnica linguística não só reforça a mensagem emocional do poema, mas também dá um ritmo mais intenso à leitura.
Outras opções, como as apresentadas nas alternativas A, B e C, não possuem essa estrutura pleonástica, pois não repetem o objeto direto de maneira a enfatizar sua importância. Assim, a escolha da alternativa D se alinha perfeitamente com a definição do objeto direto pleonástico, mostrando como essa reiteração é uma estratégia expressiva que enriquece a interpretação do poema.
Institução: UNIFESP
Ano da Prova: 2021
Assuntos: Interpretação Textual
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