Disciplina: Língua Portuguesa 0 Curtidas

A leitura do trecho de O primo Basílio, em seu - UNIFESP 2014

Atualizado em 25/11/2024

O melro veio com efeito às três horas. Luísa estava na sala, ao piano.
— Está ali o sujeito do costume – foi dizer Juliana.
Luísa voltou-se corada, escandalizada da expressão:
— Ah! meu primo Basílio? Mande entrar.
E chamando-a:
— Ouça, se vier o Sr. Sebastião, ou alguém, que entre.
Era o primo! O sujeito, as suas visitas perderam de repente para ela todo o interesse picante. A sua malícia cheia, enfunada até aí, caiu, engelhou-se como uma vela a que falta o vento. Ora, adeus! Era o primo!
Subiu à cozinha, devagar, — lograda.
— Temos grande novidade, Sr.ª Joana! O tal peralta é primo. Diz que é o primo Basílio.
E com um risinho:
— É o Basílio! Ora o Basílio! Sai-nos primo à última hora! O diabo tem graça!
— Então que havia de o homem ser se não parente? – observou Joana.
Juliana não respondeu. Quis saber se estava o ferro pronto, que tinha uma carga de roupa para passar! E sentou-se à janela, esperando. O céu baixo e pardo pesava, carregado de eletricidade; às vezes uma aragem súbita e fina punha nas folhagens dos quintais um arrepio trêmulo.
— É o primo! – refletia ela. – E só vem então quando o marido se vai. Boa! E fica-se toda no ar quando ele sai; e é roupa-branca e mais roupa-branca, e roupão novo, e tipoia para o passeio, e suspiros e olheiras! Boa bêbeda! Tudo fica na família!
Os olhos luziam-lhe. Já se não sentia tão lograda. Havia ali muito “para ver e para escutar”. E o ferro estava pronto?
Mas a campainha, embaixo, tocou.

(Eça de Queirós. O primo Basílio, 1993.)

A leitura do trecho de O primo Basílio, em seu conjunto, permite concluir corretamente que essa obra

  1. expõe a sociedade portuguesa da época para recuperar a tradição e os vínculos sociais.

  2. traz as relações humanas de forma idealista, ainda que recupere a ideologia vigente.

  3. retrata a sociedade portuguesa da época de forma romântica e idealizada.

  4. faz explicitamente a defesa das instituições sociais, como a família.

  5. faz um retrato crítico da sociedade portuguesa da época, exibindo os seus costumes.


Solução

Alternativa Correta: E) faz um retrato crítico da sociedade portuguesa da época, exibindo os seus costumes.

A alternativa E é a correta porque a obra O Primo Basílio, de Eça de Queirós, faz uma crítica contundente à sociedade portuguesa do século XIX, especialmente às suas classes burguesas. O trecho destacado revela, através da insatisfação de Juliana e das atitudes de Luísa, uma crítica às diferenças de classe e ao comportamento moral da sociedade da época. A empregada, que se vê sobrecarregada com as tarefas domésticas, observa e reflete de maneira amarga sobre a vida da patroa, que se entrega ao ócio e ao prazer, sem se preocupar com as consequências de suas ações. A distância entre as duas personagens simboliza as desigualdades sociais presentes na época.

Além disso, o adultério iminente, que será concretizado mais adiante na obra, é apresentado como reflexo de uma educação falha, baseada em princípios românticos que não condizem com as realidades sociais. Eça de Queirós utiliza o romance para questionar os valores morais e as instituições da sociedade portuguesa, como o casamento e a família, que, sob a ótica do autor, funcionam como meras convenções sociais, frágeis e manipuladas pelos interesses individuais.

Por fim, o estilo de vida da burguesia, que é mostrado como fútil e superficial, é contrastado com a realidade das classes mais baixas, simbolizadas pela figura de Juliana, que, embora submissa, exerce uma visão crítica e distanciada. Isso reforça o caráter crítico de Eça de Queirós sobre as normas e comportamentos da sociedade de sua época, confirmando que a obra é um retrato mordaz dos costumes portugueses do século XIX.

Institução: UNIFESP

Ano da Prova: 2014

Assuntos: Interpretação Textual

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