Disciplina: Língua Portuguesa 0 Curtidas

No soneto de Augusto dos Anjos, é evidente a) a visão - UNIFESP 2013

Atualizado em 28/11/2024

Apóstrofe à carne

Quando eu pego nas carnes do meu rosto,
Pressinto o fim da orgânica batalha:
– Olhos que o húmus necrófago estraçalha,
Diafragmas, decompondo-se, ao sol-posto.

E o Homem – negro e heteróclito composto,
Onde a alva flama psíquica trabalha,
Desagrega-se e deixa na mortalha
O tacto, a vista, o ouvido, o olfato e o gosto!

Carne, feixe de mônadas bastardas,
Conquanto em flâmeo fogo efêmero ardas,
A dardejar relampejantes brilhos,

Dói-me ver, muito embora a alma te acenda,
Em tua podridão a herança horrenda,
Que eu tenho de deixar para os meus filhos!

(Augusto dos Anjos. Obra completa, 1994.)

No soneto de Augusto dos Anjos, é evidente

  1. a visão pessimista de um “eu” cindido, que desiste de conhecer-se, pelo medo de constatar o já sabido de sua condição humana transitória.

  2. o transcendentalismo, uma vez que o “eu” desintegrado objetiva alçar voos e romper com um projeto de vida marcado pelo pessimismo e pela tortura existencial.

  3. a recorrência a ideias deterministas que impulsionam o “eu” a superar seus conflitos, rompendo um ciclo que naturalmente lhe é imposto.

  4. a vontade de se conhecer e mudar o mundo em que se vive, o que só pode ser alcançado quando se abandona a desintegração psíquica e se parte para o equilíbrio do “eu”.

  5. o uso de conceitos advindos do cientificismo do século XIX, por meio dos quais o poeta mergulha no “eu”, buscando assim explorar seu ser biológico e metafísico.


Solução

Alternativa Correta: E) o uso de conceitos advindos do cientificismo do século XIX, por meio dos quais o poeta mergulha no “eu”, buscando assim explorar seu ser biológico e metafísico.

A alternativa correta é a E, pois o soneto de Augusto dos Anjos faz uso de conceitos cientificistas do século XIX, como os de biologia e física, para refletir sobre a condição humana e sua fragilidade. No poema, o poeta utiliza termos como "feixe de mônadas bastardas" e "alva flama psíquica", que são claramente influenciados pelas ideias científicas da época, como o determinismo biológico e a teoria das mônadas, que sugerem uma visão mecanicista e materialista do corpo humano e da mente.

O poema se aprofunda na reflexão sobre a carne e a morte, temas recorrentes na obra de Augusto dos Anjos. Ele descreve a fragilidade do corpo humano, sua decomposição e a inevitabilidade da morte, temas tratados por meio de uma linguagem científica, mas também de forma filosófica e metafísica. O "eu" do poema não busca conhecer-se em um sentido psicológico, mas sim entender sua existência enquanto ser biológico sujeito à deterioração e à finitude, algo que é central no pessimismo de sua poesia.

Portanto, a alternativa E é a mais adequada porque reconhece a presença do cientificismo no poema, que explora o ser humano não apenas como sujeito existencial, mas também como um ser biológico e físico, imerso nas leis da natureza e da morte. Isso explica a escolha dessa alternativa, pois o poema faz uso de conceitos científicos para questionar a condição humana.

Institução: UNIFESP

Ano da Prova: 2013

Assuntos: Interpretação Textual

Vídeo Sugerido: YouTube

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