Disciplina: Língua Portuguesa 0 Curtidas

A verve social da poesia de João Cabral de Melo Neto - UNIFESP 2019

Atualizado em 29/09/2024

A verve social da poesia de João Cabral de Melo Neto

Mostra-se mais evidente nos versos:

  1. A cana cortada é uma foice.
    Cortada num ângulo agudo,
    ganha o gume afiado da foice
    que a corta em foice, um dar-se mútuo.
    Menino, o gume de uma cana
    cortou-me ao quase de cegar-me,
    e uma cicatriz, que não guardo,
    soube dentro de mim guardar-se.

  2. Formas primitivas fecham os olhos
    escafandros ocultam luzes frias;
    invisíveis na superfície pálpebras
    não batem.
    Friorentos corremos ao sol gelado
    de teu país de mina onde guardas
    o alimento a química o enxofre
    da noite.

  3. No espaço jornal
    a sombra come a laranja,
    a laranja se atira no rio,
    não é um rio, é o mar
    que transborda de meu olho.
    No espaço jornal
    nascendo do relógio
    vejo mãos, não palavras,
    sonho alta noite a mulher
    tenho a mulher e o peixe.

  4. Os sonhos cobrem-se de pó.
    Um último esforço de concentração
    morre no meu peito de homem enforcado.
    Tenho no meu quarto manequins corcundas
    onde me reproduzo
    e me contemplo em silêncio.

  5. O mar soprava sinos
    os sinos secavam as flores
    as flores eram cabeças de santos.
    Minha memória cheia de palavras
    meus pensamentos procurando fantasmas
    meus pesadelos atrasados de muitas noites.


Solução

Alternativa Correta: A) A cana cortada é uma foice.
Cortada num ângulo agudo,
ganha o gume afiado da foice
que a corta em foice, um dar-se mútuo.
Menino, o gume de uma cana
cortou-me ao quase de cegar-me,
e uma cicatriz, que não guardo,
soube dentro de mim guardar-se.

A resposta correta é a alternativa A porque os versos selecionados refletem de forma clara e incisiva as duras realidades do trabalho agrícola, especificamente o cultivo da cana-de-açúcar. A metáfora da "cana cortada" e a referência ao "gume afiado" da foice simbolizam não apenas o ato de colher, mas também a violência e o sofrimento associados a esse trabalho, evidenciando as condições desumanas enfrentadas pelos trabalhadores rurais.

Além disso, a cicatriz mencionada no poema representa um trauma físico e emocional, sugerindo que as experiências dolorosas dos lavradores permanecem marcadas em suas vidas, mesmo que não sejam visíveis. Isso aprofunda a crítica social presente na obra de João Cabral, que busca dar voz aos que sofrem nas lides do campo e expor as desigualdades da sociedade.

Os outros versos das alternativas B a E, embora ricos em imagens e simbolismos, não abordam de maneira tão direta as questões sociais e as condições de trabalho. Eles se concentram mais em temas abstratos, pessoais ou filosóficos, ao invés de um retrato concreto e socialmente crítico como o que encontramos na alternativa A.

Institução: UNIFESP

Ano da Prova: 2019

Assuntos: Interpretação Textual

Vídeo Sugerido: YouTube

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